quinta-feira, 30 de junho de 2011

Para enxergar as cores



Sou louca por cores.

Acredito que elas foram as grandes responsáveis pela minha paixão por imagem. As formas me encantam e as cores me fascinam. Mas nem sempre foi assim…

Essa história começou quando criança em um acidente doméstico. Existiam umas bolinhas de sabão que colocávamos na banheira e estourávamos na hora de usar. Na quarta série, no dia das crianças, fui estourar uma dessas na hora de lavar as mãos. Resultado: todo o sabonete líquido que as recheavam vieram parar nos meus dois olhos - queimadura de 90% da córnea. O tratamento consistia em meses de tampões nos dois olhos, escuridão total e injeções diárias.

Minha mãe (a Santa da minha vida!) me levava todos os dias para tomar as ditas injeções. No caminho até a farmácia, conversávamos sobre roupas - mais precisamente sobre as cores das roupas que usávamos. Lembro particularmente de uma saia verde esmeralda que ela colocava. Dizia: “Coloquei sua saia verde. Verde esmeralda. Sabia que verde era a cor favorita da mamãe quando mais jovem?”. 

Ouvi essa frase diversas vezes. Hoje, como mãe, imagino seu sofrimento me levando a essas sessões diárias de tortura. Mas, ainda assim, ela me distraía, preenchia minha mente e me fazia esquecer da dor que se aproximava. Verde esmeralda, azul cor do céu, rosa chiclete, amarelo ouro, marrom café… Cores felizes. Ela falava, eu imaginava… Na época diziam que eu ficaria cega, já que só me restavam 10% de córnea. Mas ela me curou com muita oração e cromoterapia. Sim, porque toda aquela explosão de cores em minha mente era pura cromoterapia! Espertíssima essa minha mãe!

Nunca vou me esquecer da sensação quando retiraram os tampões. Estava no consultório do oftalmologista. Quando abri os olhos, me deparei com todo aquele branco. Um branco claro, limpo, intacto. Vi minha mãe, mas só enxerguei sua pele linda, dourada. Meu pai com suas bochechas rosadas e camisa azul – o azul mais seguro do mundo! 

Fiquei meses andando de óculos escuros. As cores e a claridade eram fortes demais para uma menina que havia ficado tanto tempo na escuridão. Mas a verdade é que esta escuridão nunca me acompanhou.

Havia muitas cores em minha mente, as “cantadas” pela minha mãe, cores alegres, com personalidade, carregadas de sensações e mensagens.

Depois desse episódio tudo mudou. Passei a enxergar o que antes só via. As cores nas pessoas, nas artes, nas feiras, cores cotidianas que antes passavam despercebidas. 

Quando estou na “Natureza Selvagem” (plagiando o filme), me perco... Posso ficar horas observando as variações, a profundidade, as tonalidades, a transição entre os tons. 

As combinações dentro da natureza, preferencialmente aquelas sem a interferência do homem, são absolutamente perfeitas. A harmonia é absurda! Mesmo em tons contrastantes, nada dói nos olhos, nada se sobrepõe, nada grita, nada compete. Cada cor tem seu espaço e seu domínio. Naturalmente…

Se quisermos aprender sobre cores, a melhor lição é estudar a natureza. Lá encontramos as melhores combinações monocromáticas (degradê de um pôr do sol, a noite “caindo), análogas (verde das árvores + azul do céu), complementares (flores vermelhas + caules verdes). Basta retirarmos os tampões…

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